Crítica de APOLINÁRIO
Plínio Marcos faz campanha de teatro popular nos sindicatos
Quando em outubro de 1967 vimos a peça de
Plínio Marcos “Quando
as Máquinas Param”, no Teatro de Arte (anexo
ao TBC) apresentada para o público tradicional, fizemos-lhe
restrições que , mais tarde, ao vermos “Balbina
de Iansã”, no Teatro São Pedro, também
apresentada para o mesmo espectador explicitamos de forma mais direta:
o teatro de Plínio Marcos pode causar impacto entre a classe
média, a alta burguesia, os estudantes, que sei eu, essa
gente que tem dinheiro para freqüentar a chamada “Broadway
Paulistana”, mas o lugar certo para suas peças serem
representadas é em teatros que sejam freqüentados pelo
povo, por essa maioria que só vai ao teatro quando o teatro
vai até ela. Quer dizer, se os problemas que coloca, não
só nessas duas, mas em todas as suas peças, podem
causar sucesso, sobretudo pela linguagem originalíssima,
junto dessas camadas mais evoluídas, é no entanto
ao povo, às maiorias, que seus textos se dirigem com mais
objetividade, revelando-lhes o que , em boa verdade, os burgueses
estão fartos de conhecer.
Se faz sucesso (e que dramaturgo brasileiro fez mais sucesso em
todo Brasil do que Plínio Marcos?) mostrando-lhes a realidade,
quase sempre do submundo, é no próprio submundo que
seu teatro alcança esse poder de penetração
transformadora necessário para uma tomada de consciência
que leve as maiorias a reflexionar sobre seus próprios dilemas.
A prova de uma certa iniqüidade do seu teatro junto das classes
privilegiadas a que me referi, teve-a já que Plínio
Marcos nas duas experiências que acaba de fazer, levando “Balbina
de Iansã” do Teatro São Pedro para a
Casa Verde e agora “Quando as
Máquinas Param”, do Teatro de Arte para o Teatro
dos Têxteis do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria
de Fiação e Tecelagem de São Paulo.
Está na cara. O que há 4 anos atrás, no Teatro
de Arte, já nos parecia uma mensagem para burguês digerir,
ou há menos de um ano, no São Pedro, postal turístico
para o mesmo burguês se divertir, agora cabe inteirinho na
campanha de teatro popular que Plínio Marcos está
desenvolvendo, com a certeza de que se dirige a seu verdadeiro público,
aquele povo que está inteiro também nas suas peças
e que nelas se revê e a seus problemas, cuja solução
fica ainda mais claro só ele poderá achar, na medida
em que for tomando consciência disso.
É essa indiscutível utilidade, essa urgente e catalizadora
mensagem que Plínio está levando ao povo, fazendo
suas peças para ele em lugares que ele freqüenta e onde
poderá, a preços mínimos, ter o teatro que
sempre lhe tem sido recusado.
È essa missão, esse quase sacerdócio cultural,
essa renúncia aos bens comerciais de um teatro dentro do
esquema, essa entrega, pois, do artista ao seu povo, que eu quero
aqui elogiar com as duas mãos, feliz por ver que certas coisas
aqui defendidas na prática, funcionam mesmo, desde que haja
fé e honestidade no trabalho que seja realizado com a certeza
de se estar a cumprir um dever.
Fé e trabalho que Plínio e a sua gente provam na perfeição
com que estão apresentando “Quando
as Máquinas Param” para os trabalhadores e estudantes
no Teatro dos Têxteis, criado graças à visão
dos dirigentes do Sindicato referido.
È um teatro pobre de recursos, mas rico, riquíssimo,
de afirmações, sem quaisquer concessões artísticas.
A direção de Jonas Bloch é mais feliz do que
a anterior e a interpretação de Walderez de Barros
e Tony Ramos faz esquecer a de Miriam Mehler e Luís Gustavo,
talvez, exatamente, porque Jonas Bloch soube fixar no verdadeiro
ritmo cênico a linguagem realista da peça.
Walderez realiza uma figura de moça recém-casada que
é bem um protótipo social facilmente conotável,
uma personagem que se dá ao público de dentro para
fora, sem embustes, intera, como aliás teria de ser, pois
é impossível ludibriar um público que conhece
“Nina” como conhece os dedos das mãos. O mesmo
acontece com Tony Ramos, um ator talentoso, com fôlego e força
e uma sensibilidade que se extravasa apoiado numa técnica,
ainda elementar, mas sem duvida a caminho de uma afirmação
que pode levá-lo a ser um grande interprete. Ele faz um trabalho
surpreendente.
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